“A Comunidade cristã se constitui numa minoria exemplar e crítica que tem a função de fermento para a utopia universal do Reino de Deus e não está interessada em aumentar o seu poder mas em preparar os filhos para o Reino.”
(Rudolf Weth)
“Se queremos demonstrar nossa obediência a nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo devemos nos unir numa pia conspiratio e cultivar a paz entre nós.”
(João Calvino)
Há muitos anos que me encontro afastado da vida institucional de minha querida igreja. Principalmente a partir de minha mudança de residência do Rio de Janeiro para Juiz de Fora, MG, por razões de trabalho, em 1998; ocasião em que fui agraciado com o título de Pastor-emérito da igreja da Vila Proletária da Penha, onde servi como pastor-efetivo por vinte anos. Faço esta referência pessoal para contextualizar minha agradável surpresa ao deparar-me nesta Assembleia com um concílio profundamente identificado com os valores fundamentais que caracterizam a proposta original da Igreja. Chamou-me também à atenção o espírito de harmonia, concórdia e profundo interesse no desenvolvimento pleno de nossas comunidades. Fraternidade e sororidade foram as marcas centrais dessa assembleia.
Isto não acontece por acaso e nem é consequência apenas da boa vontade dos seus participantes. Muito mais do que isto, o clima dominante nesta assembleia foi resultado de um trabalho dedicado, intenso e voltado para o bem-estar da igreja desenvolvido no último triênio pelo Conselho Coordenador sob a objetiva e ousada condução de seu Moderador, Presb. Wertson Brasil.
As igrejas cristãs, em todo o tempo, têm que lutar, permanentemente, para se tornarem dignas do nome d’Aquele que dizem representar. A contradição entre suas formas institucionais e sua vivência comunitária nem sempre permite que os valores do Reino, que devem testemunhar, se realizem plenamente no chão da história. Trata-se, como sabemos, de uma comunidade de pecadores e pecadoras, sempre dependentes da Graça transformadora a nós oferecida na pessoa de Jesus na mediação do Espírito de Deus. Assim, a Igreja de Cristo, a comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré nunca é, nunca está pronta e acabada, mas acontece, cada dia de novo, toda vez que seus participantes colocam os valores do Reino (justiça, amor, verdade) acima dos seus próprios interesses, desejos e visões particulares. Como diziam os Reformadores, a igreja mais que instituição é um evento, um acontecimento que brota, cada dia de novo, no meio da história humana que vamos construindo no desenrolar da vida. A comunidade se torna igreja cada vez que renasce e isso acontece toda a vez que somos capazes de perceber a presença de Deus no rosto de nossos semelhantes que caminham ao nosso lado.
Quando emergiu, no interior da história brasileira, a IPU carregava esse sonho de ser uma comunidade de pessoas constrangidas pela justiça amorosa proclamada por Jesus. Nossos pais e mães fundadores (as) sabiam que isso não seria fácil. Que precisaríamos nos reinventar em cada volta da história para nos mantermos fiéis a esse sonho. Nossa curta, porém intensa história, nos fala disso. Foram muitos os momentos de sofrimentos, de pequenas lutas internas por motivos fúteis e, às vezes, ridículos, que fizeram com que muitos irmãos e irmãs nos abandonassem. Intolerâncias, preconceitos, visões acanhadas do poder do Evangelho, concepções voluntaristas autocentradas, idealismos egoístas e interesses pessoais marcaram nossa caminhada institucional. Não nos espantemos, essa é a marca da condição humana que nos caracteriza e para a qual sempre devemos estar atentos.
Esta assembleia nos mostrou uma comunidade amadurecida, consciente de seus problemas e, mais do que isto, preocupada em realizar sua vocação como comunidade de Jesus Cristo nas terras brasileiras nestes tempos apocalípticos que estamos atravessando.
O trabalho desenvolvido no triênio pelo Conselho Coordenador e que culminou nesta assembleia pode ser percebido, pelo menos em três dimensões:
Preocupação pastoral intensa, tanto interna como externamente.
O Conselho se fez presente em todas as comunidades ao longo do período procurando conhecer os problemas, os planos e as realizações das comunidades, ao mesmo tempo em que lhes transmitia a solidária companhia de suas irmãs. A oração intercessória de umas pelas outras contribuiu para o fortalecimento da identidade eclesial e do sentimento de pertença a uma igreja que, mesmo em condições adversas, continua resistindo ao modelo idolátrico de uma igreja para si, tão em voga em nossos dias.
Externamente, o Conselho não se furtou de proclamar os valores fundantes que nos caracterizam expressando em várias oportunidades, para o público em geral, a visão crítica da Igreja em relação aos problemas de ordem social, econômica e política que afetam a vida do país.
Preocupação ecumênica e relacional com as demais igrejas.
Nesse período a Igreja cultivou, nos limites que lhe eram possíveis, suas relações com os organismos ecumênicos, nacionais e internacionais, atuando positivamente e de forma direta por meio de seus representantes, que não deixaram de receber todo o apoio necessário por parte do Conselho. Importante nesse aspecto foi o incremento de nossas relações de cooperação com a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos e com a Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas, da qual temos o privilégio de participar de sua nova diretoria na pessoa da Dra. Raíssa Brasil, recentemente eleita como vice-presidente em representação dos jovens presbiterianos/reformados de todo o mundo.
Preocupação com a tarefa educacional da Igreja
Duas iniciativas importantes foram operacionalizadas pelo Conselho que tem tudo para fortalecer a vida de nossas comunidades. A adoção de material didático para uso em nossas Escolas Dominicais em cooperação com a Igreja |Presbiteriana Independente e a criação do Curso de Atualização Teológica (CAT) para os pastores e pastoras e também os leigos(as) que se interessarem, por meio de um Curso Teológico à Distância. O Conselho se preocupou também na produção de outros materiais formativos dando início a esta tarefa com a publicação de um livro sobre a IPU e com contribuições relevantes de membros da Igreja.
Minha conclusão, depois da valiosa oportunidade de participação na Assembleia, é de que adentramos em um novo e promissor período em nossa curta história. Ao nos entregarmos à inspiração renovadora do Espírito de Deus, neste ano especial de celebração dos 500 anos da Reforma, fiquei com a impressão de que estamos fazendo aquilo que sempre deveríamos fazer, ou seja, refundar a IPU em cada momento histórico que nos toca viver, mantendo a nossa frente os valores maiores do Reino anunciado por Jesus.
Aproveito esta oportunidade para agradecer a todos os irmãos e irmãs as manifestações de carinho, reconhecimento e solidariedade de que fui alvo durante todo o tempo da Assembleia. Pois como dizia o saudoso Rev. Carlos Cunha, “é impossível construir barreiras nos entremeios em que colocamos Cristo.”
Rev. Zwinglio Mota Dias